O casal acordou por volta das 7h., tinham muito o que conhecer… O café da manhã da Pousada era excelente, estilo Buffet (coisa rara tanto no Chile como na Argentina). Decidiram levar as roupas para lavar, já que estavam ficando sem roupas limpas, devido à quantidade possível de carregar em uma viagem de moto. Encontraram a Lavanderia Loma Sanchez, gastaram mais de $5.000 pesos e a roupa pareceu que sequer foi lavada, isto mesmo, ao retirarem as peças, viram que a sujeira estava exatamente no mesmo lugar, acreditam que apenas foi passado água, mas sabão, nem de longe.
Tiveram alguns problemas com o saque de dinheiro, nenhum dos dois bancos 24 horas existentes em San Pedro estava autorizando o saque do Bradesco, o que foi resolvido trocando-se os dólares levados para emergências (como esta), já que tudo é mais bem negociado em San Pedro, quando se tem “dinero em las manos”.
Toda a cidade é protegida pelo Vulcão Licancabur, que cuida do povoado de dia e de noite e pode ser visto de vários pontos.
O Licancabur é um vulcão localizado entre o Chile e a Bolívia, está a 5930 a.s.n.m., dominando a paisagem do Salar do Atacama, e a seus pés se encontra a Laguna Verde; é possível avistá-lo o tempo todo. É considerado um vulcão semi-ativo, mas não há registro oficial de sua última erupção.

Esta cidade oferece temperaturas muito agradáveis, céu límpido e sol radiante durante 90% dos dias do ano. A água é um elemento escasso e as cadeias montanhosas da região impedem a penetração de ventos úmidos, o que lhe confere uma aridez. As temperaturas oscilam, podendo chegar a 40º.C durante o dia e vários graus abaixo de zero à noite. Em San Pedro, registra-se uma média que vai de 8º.C a 23º.C no inverno e de 12º.C a 25º.C no verão, com máximas que podem ultrapassar os 30º.C. As chuvas podem alcançar entre 50 e 100 mm por ano, e são ocasionais.

Os moradores de San Pedro contam que em 2009 choveu um dia, por cinco minutos, em 2008, foram três dias, por cerca de 45 minutos, no total. A umidade relativa do ar é de cerca de 20%, porém neste período estava 10%. Só para se ter uma comparação em Salvador, no mês de Julho de 2010 choveu nos dois primeiros dias o equivalente a 120 mm (mais do que a máxima possível em Atacama). A umidade do ar em Lauro de Freitas oscila entre 70 e 95%, cerca de cinco vezes mais que em San Pedro.
A leste se encontra a Cordilheira do Andes, formada por uma grande quantidade de vulcões com altitudes que oscilam entre 4.500 e 6.000 m.s.n.m, se destacando os vulcões Licancabur, Lascar, Sairecabur e Putana, que provocam as atividades vulcânicas que se refletem nos geysers e nas lagunas altiplânicas (mas estes serão outros capítulos desta história).
A oeste se encontra a Cordilheira de Domeyko, com uma altitude de 3.300 m.s.n.m., e ao seu lado se encontra a Cordilheira de La Sal, com seus 2.500 m.s.n.m., formada por dobras de cortes terrestres e modelada pela erosão dos ventos e das águas, onde está localizado o Valle de La Luna (também um outro capítulo).
O sistema hidrográfico da região é endorréico: a água não chega ao mar, evapora-se antes, dissolvendo os sais do solo. Quando a evaporação é maior que a afluência da água, são formadas grandes concentrações de sal, como é o caso do Salar de Atacama (que também vai ser contado em outro momento), que se encontra ao sul de San Pedro.

Apesar de isolada no coração do deserto mais árido do mundo, San Pedro tem uma vida agitada, principalmente à noite, onde bares e restaurantes ficam lotados de pessoas de toda parte do planeta, você se sente na Torre de Babel e as diversas línguas se confundem com a música atacameña tocada em todos os cantinhos da cidade.
Acredita-se que a chegada dos primeiros habitantes nesta terra tenha sido entre 10.000 e 1.500 A.C., este povo vivia nas “quebradas” entre a bacia do Salar e a puna, em busca de vegetais e animais que garantiam seu sustento. Surgem os caçadores de camelos, se desenvolvem os instrumentos de pedra e as lanças de caça.
Por volta de 1.500-200 A.C., se começa a viver em aldeias e surge a vida familiar e comunitária, surge uma nova forma de convivência social que dá lugar a uma nova ordem política e econômica, se fortalecem as crenças e cosmovisões. Através da domesticação do guanaco, se cria a lhama. Introduz-se o cultivo do milho e da quinua e o tear e a cestaria. As crianças são vistas como mensageiros, começam as caravanas de interação com outros povos e a construção das aldeias (principalmente a de Tulor).

Entre 200 A.C. – 500 D.C. se consolida a identidade da cultura atacamenha, começando pelo idioma kunza (que significa “nosso”), e baseada na criação de objetos cuja presença de características como as formas, cores, desenhos, se diferenciam de outras culturas vizinhas. Começa uma vida definitivamente sedentária, sustentada pela integração do pastoreio com o cultivo e no gado de lhamas e alpacas, das quais se aproveitam a carne e a lã, além de serem meio de transporte que auxilia no intercâmbio com outros povoados. Intensifica-se a atividade de criar rede de integração com outros povos de puna meridional, facilitando o acesso a uma gama de bens. A cerimônia funerária adquire relevância e surgem as primeiras tábuas para inalar alucinógenos. Cria-se a ordem hierárquica: nasce os chefes cujo símbolo de poder é o machado.

Nos anos 500 – 900 D.C., Tiawanaku se converte no primeiro estado Sudamericano, influenciando fortemente a cultura atacamenha e toda região andina. Esta nova cultura chega através das sedes local, que estavam na esfera Shamânica, que adotaram novas crenças e novos deuses em sua cosmo visão. Ao ser adaptada pelos atacamenhos, surgem algumas modificações importantes, que levam uma maior complexidade a esta cultura, como a complementaridade e a reciprocidade.
Surgem os sacrifícios humanos, se consolida o uso da folha de coca, facilitando seu acesso. Acreditam na vida depois da morte, enterrando seus mortos com vestuário e alimento para sua viajem além da vida, adoram distintas forças da natureza. Os pilares Tiawanaku eram sua cosmovisão e a rede de interação comercial com a puna, culminando com a queda do estado Tiawanaku, devido, aparentemente, às mudanças climáticas que originaram uma forte seque na região. Fortalecem-se os senhores atacamenhos, que cada vez contam com objetos de maior valor.
Começa a incorporação do império Inca através do novo senhor Pachacuti Inka. Assim, o povo atacamenho se incorporo ao Tawantisuyo, ajustando-se novamente a uma nova ordem de estado, com dimensões que abarcaram muito mais do que a região andina.
A conquista espanhola se dá entre os anos 1540 – 1590 D.C., pouco tempo após a chegada dos incas (cerca de 100 anos), os espanhóis chegam na América e com sua implacável conquista, terminaram por engolir a cultura atacamenha. Tomaram Pulcará de Quitor e decapitaram 300 cabeças que foram exibidas como forma de amedrontar o povo.
Logo depois da tomada de pukará de Quitor, houve uma resistência que durou 50 anos, quando foram construídas a “Casa de San Pedro de Valdivia”, localizada na praça central de San Pedro de Atacama.

Atualmente San Pedro é considerada a capital arqueológica do Chile, e um principal ponto turístico do país, por agregar paisagens charmosas, céu azul e impressionantes cenários que a cercam e possibilitam excursões para os visitantes aventureiros.


O Instituto foi criado em 1984 com a finalidade de dar continuidade ao importante legado do sacerdote belga, cuja transcendência excedeu as fronteiras nacionais. É por ele que o instituto se fortaleceu na área de investigação e docência, incrementando e projetando o conhecimento em temas ligados a arqueologia e antropologia, inseridos na região por Le Paige na década de 1950.


De formação recente, a área museológica conta com quatro unidades especializadas supervisionam a devida conservação, documentação, exibição e difusão de mais de 300.000 peças da coleção. Busca adequar as necessidades atuais com a herança de Le Paige, em especial sua larga inserção dentro da comunidade atacamenha.

E notem o Licancabur (que significa proteção ao povo) ao fundo olhando pelo “pueblo”. Muitos estudos indicam que as cidades foram construídas, não por acaso, próximo a estes gigantes, como forma de proteção, já que suas crenças adoravam o Sol, outros deuses e as manifestações da natureza, como algo importante na vida humana.



Muitas são as opções de agências de turismo que realiza os passeios pelo deserto, e uma dica: não deixem de contratá-las, o preço não é baixo, mas vale a pena pelas explicações, lugares visitados, e para evitar o desgaste do veículo próprio, que no caso da moto, não passaria por muitos lugares devido ao tipo de solo. O casal escolheu a Desert Adventure (Rua Caracoles esquina com Tocopilla) para realização dos passeios turísticos, fecharam um pacote no valor de $ 40.000 por pessoa (exceto as entradas dos parques) para conhecer o Valle de La Luna e Valle de La Muerte, com o pôr do sol incluso, o Salar do Atacama, com a Reserva Nacional dos Flamencos e as Lagunas Altiplânicas e Gêiser Del Tatio. Na agência fizeram o primeiro contato com um casal de brasileiros, que viriam a reencontrar mais tarde.
Combinaram realizar o passeio ao Valle de La Luna e de La Muerte para o mesmo dia, a saída foi marcada para as 16h. O guia turístico foi Salvador, um cara super animado, muito simpático e carismático. Na van, conheceram um casal carioca, que também estava conhecendo o Chile e San Pedro de Atacama, foi uma amizade instantânea, daquelas que parecem se conhecer a tempos!
Para conhecer mais: